É claro, no começo eu não conhecia nada mesmo. E fica aquela coisa: um rei que não sabe onde está? Fica entre eu e vocês, já que nenhum deles achou isso estranho.
Mas também não acharam estranho quando eu quis conhecer o planeta. Aliás, eles sempre fazem o que peço com a maior naturalidade e puxa-saquismo; acho que já disse isso aqui.
Bem, o jeito deles de viajar é estranho. Não que seja exclusivamente venusiano, mas eles são extremamente hipócritas em relação a isso.
Olha só, eles podem entrar nas naves deles, viajar pelo universo poluindo tudo (será que polui? No vácuo?), mas na atmosfera deles...
Eles viajam com BICICLETAS! Cara! A humanidade nunca pensaria em não poluir o planeta. Sentimento humanitário? Ah, uma ova. Sentimento humanitário é isso, preservar o verde do planeta (ainda que o planeta tenha um leve tom marrom no ar).
Eu comentei isso com eles, e acharam graça. Pelo jeito os humanos ainda têm chance: eles só começaram a se conscientizar disso há pouco tempo (uns três séculos). Antes, o planeta tinha sido todo poluído, assim como na Terra.
Bem, boa sorte com os ecochatos aí.
(antes que eu me esqueça de dizer, eu digo: as cidades daqui são lindas, mas todas iguais. Acho que eles não aprenderam direito sobre individualidade, vou fazer umas mudanças por aqui.
Aguardem.)
Monday, July 31, 2006
Sunday, July 30, 2006
A Majestade (Tu és o homem!)
Durante a maior parte da minha estada aqui, o que mais me chamou a atenção foi o puxa-saquismo.
Impressionante. Não é gentileza, é puxa-saco mesmo. Prazer em te fazer se sentir o rei.
Todo mundo me tratou como se eu fosse uma celebridade, um monarca. Eu! Eu, que na Terra precisaria me esforçar arduamente pra ser conhecido! Para ser famoso no meu antigo planeta, eu precisaria, no mínimo, aguentar um mês em uma casa com gente chata ou lançar um CD de funk. Aqui, foi só botar meus mimados pézinhos no chão.
Ou qualquer que seja o nome que eles dão aqui.
Acho que não tinha falado disso ainda, mas eu não aprendi a língua deles. Não que eles não tenham tentado me ensinar, mas eu não precisei aprender. Eles devem ter usado uns poderes paranormais esquisitos e eu -plim- aprendi.
Mesmo assim, eu não abdiquei de usar minha língua, uma das únicas coisas que não rejeitei da minha terrinha.
Com muito mais disposição do que eu, eles aprenderam minha língua, e parece que gostaram - às vezes eles usam mais do que eu.
Mas, como eu dizia, todo mundo me tratava com muito respeito, como um ator, como um astronauta, como um rei.
Talvez por isso eu não tenha estranhado quando virei rei mesmo.
Impressionante. Não é gentileza, é puxa-saco mesmo. Prazer em te fazer se sentir o rei.
Todo mundo me tratou como se eu fosse uma celebridade, um monarca. Eu! Eu, que na Terra precisaria me esforçar arduamente pra ser conhecido! Para ser famoso no meu antigo planeta, eu precisaria, no mínimo, aguentar um mês em uma casa com gente chata ou lançar um CD de funk. Aqui, foi só botar meus mimados pézinhos no chão.
Ou qualquer que seja o nome que eles dão aqui.
Acho que não tinha falado disso ainda, mas eu não aprendi a língua deles. Não que eles não tenham tentado me ensinar, mas eu não precisei aprender. Eles devem ter usado uns poderes paranormais esquisitos e eu -plim- aprendi.
Mesmo assim, eu não abdiquei de usar minha língua, uma das únicas coisas que não rejeitei da minha terrinha.
Com muito mais disposição do que eu, eles aprenderam minha língua, e parece que gostaram - às vezes eles usam mais do que eu.
Mas, como eu dizia, todo mundo me tratava com muito respeito, como um ator, como um astronauta, como um rei.
Talvez por isso eu não tenha estranhado quando virei rei mesmo.
Saturday, July 29, 2006
A Chegada
Sair daquela nave, por fim, foi uma das coisas mais corajosas que já fiz - ainda que das mais óbvias.
Pisei com cuidado em cada degrau da escada, como se fossem de manteiga e não de metal. Na verdade, eu ainda não tenho muita certeza de como consegui não cair; deve ter a ver com a gravidade desse planeta.
Aliás, gravidade lembra cemitério. Logo, a Lua deveria ter mais vida que a Terra, já que a gravidade é menor. Certo?
Com aquela mudança de gravidade (leve mudança), eu não sabia como deveria me comportar. Ar de humildade? De confiança?
Bem, eu fiquei na indecisão. Parecia haver milhares deles me esperando, mas o silêncio era absoluto. As expressões, indefiníveis.
No entanto, quando afinal pus os pés pela primeira vez em Vênus, a multidão quebrou aquela paz com aplausos e berros ensurdecedores.
Acenei para eles. A milhares de quilômetros da Terra, eu finalmente estava em casa.
Pisei com cuidado em cada degrau da escada, como se fossem de manteiga e não de metal. Na verdade, eu ainda não tenho muita certeza de como consegui não cair; deve ter a ver com a gravidade desse planeta.
Aliás, gravidade lembra cemitério. Logo, a Lua deveria ter mais vida que a Terra, já que a gravidade é menor. Certo?
Com aquela mudança de gravidade (leve mudança), eu não sabia como deveria me comportar. Ar de humildade? De confiança?
Bem, eu fiquei na indecisão. Parecia haver milhares deles me esperando, mas o silêncio era absoluto. As expressões, indefiníveis.
No entanto, quando afinal pus os pés pela primeira vez em Vênus, a multidão quebrou aquela paz com aplausos e berros ensurdecedores.
Acenei para eles. A milhares de quilômetros da Terra, eu finalmente estava em casa.
Friday, July 28, 2006
A Viagem
A viagem foi rápida e calma, considerando-se que eu acabava de deixar a Terra, e tudo que ela representa(va).
Enquanto minha cabeça girava, eu tentava entender como minha revolta e minha insatisfação com os humanos me levara até ali.
Então me dei conta que a rebelião fora um coisa boa, afinal de contas. Eu estava subindo, sumindo, rumo às estrelas, rumo a um lugar que nenhum daqueles seres de pele macia jamais conhecera.
A Terra foi ficando pra trás, numa velocidade incrível, e junto jaziam os meus antigos problemas e medos... Lá ia eu buscar novos problemas e medos.
Enfim apareceu um motivo, uma razão pra eu viver insatisfeito com tudo aquilo.
"A emoção da descoberta só é comparável à insatisfação com o antigo."
Eu até tentei me lembrar quem escrevera isso, mas não deu tempo.
Foi quando aterrissamos.
Enquanto minha cabeça girava, eu tentava entender como minha revolta e minha insatisfação com os humanos me levara até ali.
Então me dei conta que a rebelião fora um coisa boa, afinal de contas. Eu estava subindo, sumindo, rumo às estrelas, rumo a um lugar que nenhum daqueles seres de pele macia jamais conhecera.
A Terra foi ficando pra trás, numa velocidade incrível, e junto jaziam os meus antigos problemas e medos... Lá ia eu buscar novos problemas e medos.
Enfim apareceu um motivo, uma razão pra eu viver insatisfeito com tudo aquilo.
"A emoção da descoberta só é comparável à insatisfação com o antigo."
Eu até tentei me lembrar quem escrevera isso, mas não deu tempo.
Foi quando aterrissamos.
Thursday, July 27, 2006
A Partida
A partida foi o mais difícil. Eles me chamaram pra ir. Deixar a Terra. Deixar a humanidade. Deixar tudo que tinha aqui.
"Não posso levar livros?"
"Nós temos nossos livros."
"Não posso levar CD's de música?"
"Nós temos nossas músicas."
"Ah, então tá."
"Mas você pode levar algumas pessoas, se você quiser."
"Hum... Eu não quero."
"Então tá."
E desde então eu estou em Vênus.
"Não posso levar livros?"
"Nós temos nossos livros."
"Não posso levar CD's de música?"
"Nós temos nossas músicas."
"Ah, então tá."
"Mas você pode levar algumas pessoas, se você quiser."
"Hum... Eu não quero."
"Então tá."
E desde então eu estou em Vênus.
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